Tinha tudo para ser uma cena de cinema, mas era puro acaso: em uma noite de frio e chuva, o tapete vermelho do 44º Festival de Cinema de Gramado foi o lugar de descanso de um morcego, que morreu ali mesmo, onde artistas, cineastas e públicos em geral passam todas as noites para conferir os filmes em exibição no Palácio dos Festivais.
Se a chuva parecia lamentar a ausência, por motivos de saúde, do homenageado José Mojica Marins, o morcego já indicava o que estava por vir: Liz Marins, filha de Mojica, viria representá-lo na entrega do troféu Eduardo Abelin. Ela, que também se dedica ao cinema e incorpora a personagem Liz Vamp, filha do icônico Zé do Caixão interpretado por seu pai, trouxe o fantástico para Gramado ao ser acompanhada, no tapete vermelho, por outros personagens que davam o clima do gênero que Mojica ajudou a introduzir na cinematografia brasileira.
Ao receber o troféu em nome do pai, Liz Marins fez questão de reforçar a trajetória dele como cineasta e como um grande guerreiro da indústria cinematográfica brasileira: “Neste trajeto até o palco, vi meu pai adolescente nas telas, e lembro que ele não foi ‘somente’ o Zé do Caixão. Teve toda uma trajetória de vida e cinema desde os anos 1950 quando ganhou, ainda adolescente, uma câmera de seu pai. Durante todo esse tempo, sofreu muitos preconceitos e discriminações dentro de seu próprio país, enquanto era reconhecido mundo afora. Por isso, a homenagem desse festival ao meu pai significa o reconhecimento da pátria que ele sempre amou a esse homem que nunca desistiu dela mesmo quando muitos o desdenhavam pela falta de estudo”.
O curador Rubens Ewald Filho foi o responsável pela entrega do troféu: “Mojica é uma figura única na história do cinema brasileiro”, elogiou.
O carinho também foi a tônica das falas de dois amigos do cineasta que enviaram uma mensagem em vídeo ao homenageado: Satã, assistente e segurança de muitos anos de Mojica, e o escritor, desenhista e roteirista Rubens Luchetti.
O próprio homenageado enviou um vídeo de agradecimento ao festival: “Estou feliz com a minha filha aí. Ela é a mesma coisa que eu, pois segue meus passos no gênero sobrenatural, cumprindo sua missão no setor do cinema de terror. No Brasil, não temos o mesmo aval de outros países, mas o que importa é o que fazemos”, avaliou Mojica.
Feliz, a herdeira do ícone do horror brasileiro exclamou: “Vocês não têm noção de como esse momento é importante. As melhores homenagens acontecem em vida e, graças a Deus, meu pai ainda está muito vivo!”.
Fonte: Pauta – Conexão e Conteúdo/ www.pautaassessoria.com.br
Fotos: Fatima R Oliveira/ Gramado Enfoco