A origem do Festival de Cinema
Por: Cássio Rafael Machado e Fatima Oliveira
O Festival de Cinema de Gramado foi idealizado entre os anos de 1969 e 1971, em mostras de cinema que ocorreram no Rio Grande do Sul. A partir desses eventos menores, o então prefeito de Gramado, Horst Ernst Volk, desenvolveu o projeto de criar um festival de cinema na cidade. O projeto e sua concretização também contou com o apoio de Carlos Guimarães, presidente do Instituto Nacional do Cinema na época, Romeu Dutra, ex-secretário de turismo de Volk, entre outras personalidades.
Em entrevista para o Jornal Gramado Enfoco, o ex-secretário da cidade, Romeu Dutra, relata como esse importante evento foi idealizado e se tornou uma realidade na programação gramadense. Ele participou ativamente das cinco primeiras edições e lembra de detalhes de como tudo começou: “Quem começou as mostras que deram origem aos festivais de cinema no RS foi o então vice-prefeito de Porto Alegre, Glênio Peres, na década de 1960.”, comenta. Dutra também lembra que uma das mostras que aconteciam na capital gaúcha coincidiu com a tradicional Festa das Hortênsias em Gramado. Foi aí que surgiu a ideia de parceria entre as prefeituras de Gramado e Porto Alegre para que a mostra de cinema, os atores e atrizes fossem levados para a serra, para participarem da programação da Festa.
Em 1973, já oficializada pelo Instituto Nacional do Cinema (extinto em 1975), a primeira edição do Festival de Cinema de Gramado aconteceu de 10 a 14 de janeiro, também durante a programação do Festa das Hortênsias, e tinha um perfil diferente do evento que se conhece hoje: na época, a maioria dos filmes inscritos não eram muito bem-vistos pela sociedade, classificados como “pornochanchadas”, eles utilizavam o humor e o erotismo em suas produções, uma característica comum do cinema brasileiro nesse período. Na primeira edição, o grande vencedor como Melhor Filme foi o aclamado “Toda Nudez Será Castigada”, de Arnaldo Jabor, considerado uma das produções mais elogiadas pela crítica de cinema brasileiro. A película também recebeu o prêmio de Melhor Atriz, para Darlene Glória, além de Menção Especial pela utilização da música do compositor argentino, Astor Piazolla. Outros destaques da primeira edição foram os prêmios de Melhor Ator para Carlos Kroeber, de A Casa Assassinada e Melhor Diretor para Luis Sérgio Person, pelo filme “Cassi Jones: Magnífico Sedutor”.
Romeu conta algo inusitado que poucos lembram sobre a primeira edição do Festival: “Na noite de encerramento do Festival, houve uma tempestade muito forte e faltou energia elétrica, então tivemos que dar continuidade ao evento com luz de ”liquinhos” (tipo de lampião ligado em um pequeno botijão de gás), destaca. Romeu conta ainda que o apresentador era Osmar Meletti, jornalista da Rádio Guaíba: “com grande sucesso, ele conseguiu fazer o encerramento do evento com a luz improvisada, além do excelente comportamento da plateia, que foi respeitosa com a situação”. Outra curiosidade lembrada foi que na época dos primeiros festivais, era necessário buscar os participantes em Porto Alegre: “nós buscávamos os atores e diretores no aeroporto com nossos próprios carros”, revela Romeu.
O ex-prefeito de Gramado, Pedro Bertolucci (Pedro Bala), já realizou 18 edições do Festival de Cinema de Gramado (de1983 a 1988, de 1993 a 1997, e de 2001 a 2010). Ele fala como foi realizar o o evento em seus primeiros anos, quando era vereador da cidade: “Esse primeiro momento do festival foi muito crucial, quando ele obteve maior consistência”, e acrescenta: “quando teve o segundo festival, havia mudado a administração da prefeitura e não tínhamos patrocinador para o evento. Foi Horst Volk, enquanto empresário, e nós que bancamos a segunda edição”, revela. Segundo Bertolucci, “o início da história poucos sabem, mas alguém sustentou o negócio que se tornou o evento maravilhoso que temos hoje”.
Relembrando, Pedro comenta que havia uma grande preocupação por parte da sociedade de que o Festival fosse seguir uma linha de carnaval, até pelo conteúdo dos filmes da época, porém, Horst Volk, Jaime Schmeler, Enoir Zorzanello e o próprio Bertolucci apostaram no Festival de cinema de Gramado. Outros nomes citados por Bertolucci é do empresário Luciano Peccin, um dos idealizadores do Natal Luz, e Romeu Dutra, secretário de turismo na prefeitura de Volk.
Para Bertolucci, “o Festival de Cinema de Gramado é o maior promotor do nome da cidade. Ele ajudou a construir o charme do município. Sempre tem uma fantasia entre o artista e o admirador, e quando ele vê aquela celebridade ao natural, nas ruas e restaurantes da cidade, é um momento muito especial.”, comenta o ex-prefeito.
Sobre o porquê de ser em Gramado, o ex-prefeito comenta: “Por ser uma cidade pequena e sua população ser respeitosa, não acontecem alvoroços de pessoas e muito menos assédio aos artistas que ficam transitando pela cidade durante o Festival.”, fala Bertolucci, ressaltando a respeitabilidade do povo gramadense.
Passaram-se 50 edições e o ex-prefeito comenta que todo o evento precisa ser repaginado a cada momento, o Festival passou por várias etapas, assim como o Natal Luz. O maior lucro, segundo o ex-prefeito, ainda está na publicidade que o evento faz. O cinema mudou muito o seu conceito, as salas estão mais confortáveis, as telas mudaram, daqui para frente acredito que não irá acabar (o cinema), pelo contrário, o tempo só vai acrescentar. O Festival de Cinema terá, com certeza, mais 50 anos.
Educavídeo
Sobre o Educavídeo, Bertolucci comenta: “quanto mais desenvolver ações como essa, junto, à gurizada, levando o cinema às escolas, podemos passar para eles essa cultura e despertar a arte nas crianças.”
Fotos: Fatima Oliveira