Começou com um preto e branco bonito e dramático a Mostra Competitiva de Curtas Metragens do 42º Festival de Gramado.
Primeiro filme da categoria a ser exibido, no dia 9, sábado, o paraibano Contínuo, de Carlos Ebert e Odécio Antonio, retrata os transtornos de um homem imerso num mundo quadrado, burocrático e sem cores. A obsessividade do protagonista é marcada na narrativa por um jogo de planos e enquadramentos engenhoso.
O personagem de Contínuo, interpretado por Odécio, demorou para ser totalmente criado. Foram sete meses de pesquisa sobre TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo). As características dele foram criadas a partir de observações cotidianas.
— Durante a pesquisa, encontramos uma pessoa conversando com ela mesma e também agregamos essa característica — contou o diretor.
Também no sábado, às 21h, foi a vez de La Llamada, do diretor Gustavo Vinagre, produzido na escola de cinema cubana de San Antonio de Los Baños.
Lázaro Escarze, cubano revolucionário de 87 anos, vive em um pequeno povoado e instalará seu telefone pela primeira vez na vida.
— A trama tem uma linha muito tênue entre o improviso e a realidade. Em alguns momentos, o protagonista realmente se sentiu incomodado — comentou o diretor, cuja decisão de fazer este diálogo entre ficção e realidade serviu para tornar a história mais natural, deixando os sentimentos aflorarem sem necessariamente seguir um roteiro pré-estabelecido.
No domingo, dia 10, o curta em competição exibido foi o pernambucano História Natural, de Júlio Cavani, emoldurado por um verde que chega a parecer pintura. A requintada realização apresentou um protagonista que escala árvores altíssimas para extrair estranhos organismos, semelhantes a casulos e que produzem sons.
— Foi difícil encontrar o ator ideal. Precisava de um que escalasse árvores. Então, encontrei Norberto de Souza, um catador de cocos. Com sua profissão quase em extinção, ele é um patrimônio vivo — acredita Júlio.
No total, concorrem em Gramado 14 curtas-metragens.
