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“Agroindústria, turismo, inspeção alimentar, loteamento ilegal e flores na rotina da Secretaria da Agricultura”

Para o secretário da Agricultura de Gramado, Alexandre Meneguzzo (extensionista rural licenciado da Emater), as agroindústrias e o turismo rural somam economicamente e socialmente na história recente do Município. Meneguzzo acredita que o momento é favorável para a permanência do jovem na propriedade, avalia que loteamento irregular em área rural resulta da falta de moradia na cidade, e cita cuidados que o consumidor de produtos de origem animal deve adotar. Sobre flores, o secretário diz que as plantas funcionam como recepcionistas nas vias públicas. Confira a entrevista.

P – O meio rural de Gramado experimenta um período de desenvolvimento econômico e social importante, com negócios relacionados às agroindústrias e turismo, por exemplo. De que modo a Secretaria da Agricultura apoia essas iniciativas?

R – As agroindústrias sempre foram vivas no meu pensar, desde os tempos da Emater, quando se discutia o que fazer com o nosso homem do campo numa região acidentada, de relevo difícil. De como integrar a produção agropecuária com o turista. A agroindústria foi o grande elo. Com o Programa Gramado Colônia, superamos dificuldades de legalização de negócios com a defesa e orientação de projetos de obras de engenharia (planta), licença ambiental, PPCI (Plano de Prevenção Contra Incêndio), layout de rotulagem e isenção de taxas por três anos, por exemplo. Hoje, temos uma diversidade de agroindústrias, em torno de 100, sendo que 65 são da história mais recente. Nisso, o turismo rural surge como grande divulgador das agroindústrias, das pessoas. Em 2020, vamos lançar mais um roteiro de turismo rural, para a Linha Furna, integrando mais agricultores.

P – Muitos desses negócios são administrados por jovens e o senhor destaca isso em suas manifestações. Essa possibilidade de fixação do jovem no Interior, dentro do processo de sucessão da propriedade, pode ser um diferencial para a agricultura de Gramado?

R – Temos 500 famílias de agricultores que vivem da agropecuária pura, sem que tenha alguém que trabalhe fora ou traga outra renda para essas famílias. As cerca de 100 agroindústrias envolvem aproximadamente 135 famílias desse público. Boa parte das agroindústrias já trouxe de volta jovens que saíram e retornaram porque na atividade do processamento podem obter maior renda que na cidade, e com qualidade de vida. Claro, a sucessão é um tema bastante polêmico, pois muitas vezes uma família com boa renda, boa autoestima, tem gosto por outros ambientes. Prefere uma vida urbana. O crescimento vegetativo diminuiu, as famílias estão tendo menos filhos, mas os que estão ali têm oportunidades de uma sucessão e isso, sem dúvida, é um diferencial.

P – Com o surgimento dessas novas atividades econômicas no meio rural, outros segmentos típicos como a criação de animais para abate, o cultivo da lavoura e o plantio de frutas continuam representativos?

R – Algumas atividades diminuíram as suas áreas. A agroindústria agrega mais valor ao produto. O proprietário da agroindústria, com uma família menor, acaba reduzindo a área, mas mantendo a matéria -prima e fomentando outros ao redor a produzirem. Uma forma bonita de integração social que acontece e que se viabiliza. Hoje, por exemplo, nós temos uma relativa crise na produção do figo, que sempre foi uma cultura de destaque em Gramado. Ela estabilizou a área há uns 15 anos e, agora, com a dificuldade de comercialização com grandes empresas, as pequenas agroindústrias adquirem o produto dos vizinhos. Hortaliças são produzidas para agroindústrias de conservas, vinhedos produzem uva para fábricas de sucos e pequenas vinícolas, e assim por diante. Então, nesse sentido, não houve uma expansão, mas houve uma manutenção. Se levarmos em conta que manter, mesmo com um crescimento vegetativo menor, isso é um ganho.

P – O Serviço de Inspeção Municipal (SIM) atua para conter o comércio de produtos de origem animal de procedência duvidosa. O consumidor de Gramado pode confiar no que põe na mesa?

R – O SIM atua em três frentes: no combate à clandestinidade, auxiliando a Vigilância Sanitária nos processos de controle da origem dos produtos livres doenças ditas zoonoses como brucelose, tuberculose e aftosa; na educação sanitária, alertando para a necessidade do consumo de produtos inspecionados e garantidos; e na inspeção, que é a visita do veterinário à agroindústria, ao estabelecimento produtor, a fim de verificar se os processos cumprem o manual de boas práticas. Nos últimos dois, três anos, inclusive conseguimos, com a implementação do SUSAF (Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte), a comercialização de certos produtos de Gramado em outros municípios.

P – Conter a ocupação de áreas de terras fracionadas e vendidas irregularmente, para moradia ou instalação de pequenas fábricas na zona rural, é um desafio permanente. O que a Secretaria da Agricultura pode fazer nesse sentido?

R – O tema não se origina no espaço rural, ele se origina no espaço urbano. Existe uma dificuldade histórica no Município com a hipervalorização dos imóveis, que acaba forçando muita gente a buscar moradia no espaço rural. Enquanto isso estava somente nas mãos de familiares, na propriedade ainda havia uma responsabilidade de manejo, de cuidado com essa área. O Município não é contra as pessoas, o problema é a ocupação irregular dos espaços. Hoje, temos estudos que mostram que a água de consumo no meio rural é contaminada por dejetos, por coliformes, e não se pode dizer que venha da criação de animais, que não é tão representativa em Gramado. A Secretaria da Agricultura não é fiscalizatória, mas procura orientar os agricultores a não fracionarem sua terra, a se concentrarem na agricultura, que é viável, rentável. As pessoas são bem-vindas no meio rural, mas com interesse agrícola.

P – É esplêndida a avaliação de gramadenses e visitantes sobre a estética e conservação dos canteiros e jardins floridos das áreas públicas da cidade. De onde vem tanta inspiração?

R – Temos que louvar o espírito criativo do povo gramadense. Ao longo da história conseguimos provar o bom gosto dos nossos jardins, nossos terrenos, nossas praças. E isso, certamente, se reflete no nosso trabalho (cita o empenho do paisagista Márcio Pottratz e equipe do Horto Municipal Oscar Knorr). Não basta só olhar a natureza, nós precisamos também cuidar dos ambientes que o ser humano modificou. Então, uma praça pública, um canteiro, um meio de pista, uma rótula, um pórtico são ambientes altamente modificados. Dessa forma, a inspiração vem da vontade de nos tornarmos agradáveis às pessoas que nos visitam. Como não podemos estar nos pórticos para receber quem chega, as flores fazem isso por nós.

Texto: Roque Tomazeli/ Foto: Carlos Borges

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